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DESVER

FESTIVAL DE CINEMA 

UNIVERSITÁRIO

DE MATO GROSSO DO SUL

Foto do escritorCarlos Yukio

A Imagem Não Diz Nada, mas a História diz

Experimental por se opor às regras tradicionais do cinema industrial, o curta-metragem “A Imagem Não Diz Nada”(2021), de André Quevedo Pacheco, Ismael Pereira, Lucas Bighetti, reúne, em montagem, fragmentos do patriotismo brasileiro e militarismo centralizado na figura do General Newton Cruz, famoso por agredir em entrevista ao vivo o jornalista Honório Dantas em 1983, período em que o Brasil ainda vivia a ditadura militar.

O curta mixa imagens de arquivo históricas com efeitos visuais intrigantes e que relembram um brinquedo quebrado, como caleidoscópios, com hinos patrióticos em tons distorcidos e falas contemporâneas a respeito do episódio. Esse uso das técnicas causa o efeito de sonho (ou pesadelo), e até de memória. Um tipo de epifania histórica que busca passar algum tipo de mensagem, sem nenhuma narração ou ficção, apenas a exibição de fatos reais.

Newton Cruz manda o repórter “calar a boca”, fato reproduzido pelo presidente Jair Bolsonaro em junho de 2021 durante entrevista. É natural do autoritarismo a rejeição ao pensamento livre, ao questionamento e à liberdade de opinião. O fato narrado pelo curta de 3 minutos se tornou a representação da repressão à imprensa durante a ditadura militar, culminando com a música Aquarela do Brasil, de Ary Barroso.

A escolha da música que fecha o curta é também bastante interessante. Reconhecida internacionalmente como uma das canções brasileiras mais belas já feitas, Aquarela do Brasil foi escrita durante o Governo Vargas, outro momento ditatorial da história brasileira. Na época, o compositor Ary Barroso foi criticado por favorecer as belezas do país como se fosse perfeito, sem os problemas reais que assolavam a população. Existia apenas o amor à Pátria.

Eu, como jornalista, percebo que a produção tem relação interessante com o momento em que o patriotismo brasileiro ganhou notoriedade de novo a partir de 2018, e como o curta parece sutilmente querer mostrar ao espectador que a história é cíclica e repetitiva, mudando-se apenas os personagens. Trinta e oito anos após as filmagens retratadas na produção, o Brasil volta a ter o mesmo cenário: uma representação militar no poder, um patriotismo que cega os olhos em busca de uma salvação e a desvalorização da credibilidade da imprensa.

O intrigante A Imagem Não Diz Nada, à priori, desafia os conceitos tradicionais de estética, forma e conteúdo no cinema, mas também reflete sobre os rumos do patriotismo brasileiro durante a história do país e também de forma assustadoramente contemporânea. A imagem pode não dizer nada, mas a História diz, e muito.

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