Inspirado pelos acontecimentos de 2020, Davi Siqueira imagina uma realidade paralela onde o vírus COVID-19 evolui para o COVID-21 e se transformou em uma criatura grande e fisicamente visível. O filme adota uma narrativa de vídeo diário, como um vlog. Começa com um tom mais sério, como se se assumisse real, sem trilha sonora, com a qualidade da gravação bem caseira, até o meio minuto, mas logo em seguida aparece um trecho de um jornal encenado, que mostra uma imagem da internet de alguém nitidamente vestido de uma espécie de lobo, é a quebra do tom sério, o filme já não se assume mais como um documentário falso ou found footage, essa quebra ocorre pelo humor visual, me deixando de acreditar que aquilo ali poderia ser um relato real, já que a matéria do jornal é claramente falsa. A presença dos atores amadores enfatiza essa estética artificial/real, porque não é boa ao ponto de ser profissional, são eles agindo como estariam agindo no seu dia-a-dia.
Em uma das cenas o protagonista e seus amigos estão em uma chamada, ele ensina uma receita caseira para prevenir a doença, tentando ironizar de maneira escrachada a repercussão das notícias falsas na internet para um suposto tratamento precoce, o humor dessa cena parece deslocado do personagem, já que ele seria parte de algum tipo de resistência, mas passa uma receita um tanto quanto suspeita e sem muita credibilidade.
O final não teve muito impacto em mim, pois a questão da opressão do governo não foi inserida anteriormente, a não ser que a própria criatura do COVID-21 esteja tentando ser uma forma de encobrimento do governo ou analogia a opressão, mas mesmo assim só tem um certo apelo pela morte do personagem e por fazer referência ao Bolsonaro como um ditador.
O estilo de montagem e edição bem de YouTube são legais para enfatizar esse humor amador e "ruim'' propositalmente, porém o recurso em alguns momentos é bem aproveitado, em outros destoa bastante da proposta que o próprio filme pretende estabelecer.
Em suma, o filme almeja muita coisa: ser found footage, comédia escrachada, um documentário falso, uma crítica política e uma ficção científica. Mas para seus três minutos de duração, deseja fazer muito, não tendo tempo suficiente para se desenvolver, pois não foca completamente em nenhuma dessas ideias e se perde em seu próprio tom indeciso que talvez funcionasse em um curta um pouco mais longo.
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