Curta ficcional sobre uma cidade nordestina futurística e distópica, Abjetas 288 (2021), de Júlia da Costa e Renata Mourão, cria uma atmosfera pós-apocalíptica através da utilização de movimentos de câmera rápidos, efeitos visuais de distorção, imagens sobrepostas, caracterização do elenco e uso das cores neutras branco, preto e cinza – que ditamo tom da dramaticidade e mergulham o espectador no universo criado pelas diretoras. Estando muito longe, assim como 99% dos brasileiros, do1% que concentram quase metade da riqueza nacional do país, foi impossível não me identificar com as personagens principais e entender que a narrativa se embasa em como a imagem do rico às vezes extrapola a própria riqueza para manter o status quoe a desigualdade social que sustenta a burguesia.
O curta-metragem explora a temática contemporânea da crítica social através da jornada das personagens Joana (Débora Arruda) e Valenza (Dandara Fernandes), marginalizadas, e em uma busca curiosa pelo condomínio de luxo Aracaju Gardens, dito pela personagem Bettina como o ápice da sociedade futurista retratada. A escolha do nome da personagem interessantemente faz referência à Bettina, jovem de Santa Catarina que virou meme nas redes sociais em março de 2019 após criar um canal próprio no YouTube onde ensinava a transformar mil e quinhentos reais em um milhão.
Logo, o curta critica, através da retratação da riqueza e da marginalização dos pobres no universo criado – e com ironia, a superficialidade da meritocracia na cidade do futuro e a farsa que sustenta o sistema social ao desmascarar a burguesia utópica que se esconde atrás de um anúncio de televisão quando, na realidade, o local tão almejado se trata de um terreno baldio e vazio. Quando o fato é descoberto pelas personagens, elas caem na gargalhada ao perceberem a pequeneza da classe alta.
Os sonstanto diegético quanto não diegético são muito bem utilizados para aclimatar o espectador no ambiente futurista com trilha sonora original e eletrônica, efeitos sonoros, ruídos e som ambiente (BG). Ainda, a mixagem sonora casa com a montagem e edição, que abusa de efeitos visuais interessantes e que também aprofundam o espectador na atmosfera futurista, como sobreposições, espelhamentos, planos rápidos, efeitos glitche artes gráficas. Para mim, foi uma ótima estratégia para fazer um curta que tivesse um ar futurista com um orçamento de baixo custo através da mixagem e da criatividade.
Produzido como Trabalho de Conclusão de Curso das autoras para o curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal de Sergipe (UFS) através das produtoras Filmes de Lama e Floriô de Cinema, “Abjetas 288”mescla a regionalidade sergipana a dinamicidade de uma cidade do futuro do imagético do ser humano, com uma narrativa que cativa e ao mesmo tempo em que intriga o espectador acerca do tema da desigualdade social e de como a máscara da mídia é um dos cernes que a sustenta perante as massas.
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