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DESVER

FESTIVAL DE CINEMA 

UNIVERSITÁRIO

DE MATO GROSSO DO SUL

Foto do escritorJorge Guilherme

MAIS UM, MENOS UM

Existem ideias de produção audiovisual que só podem ser concebidas por meio da animação. Este é o caso da obra alegórica de Pedro Henrique Lima, A Raiz de Um. Nela, nós acompanhamos o tormento existencial de seu protagonista que, ao enfrentar sua rotina, procura respostas para uma série de questionamentos acerca de si mesmo e do mundo ao seu redor.

Com base nessa premissa, o curta se utiliza de uma série de inventivas decisões técnicas para nos colocar dentro da mente e estado de espírito do personagem principal (propositalmente sem nome definido), criando assim um aspecto surrealista que consegue traduzir bem o seu conflito interno. Destarte, nós vamos desde metáforas que representam a forma como o protagonista se sente deslocado com relação aos outros, passando pela sua angústia traduzida em fórmulas matemáticas (meu pavor), até figuras cósmicas que refletem o peso letárgico de seu cotidiano.

É uma narrativa que, em minha opinião, encontra o seu mérito na utilização de técnicas simples de animação 2D como um meio de analisar o âmago inquieto de seu protagonista. Neste sentido, os grandes questionamentos da obra residem em torno da interação de seu personagem com a realidade que o cerca. É, sem sombra de dúvidas, um filme de forte teor intimista. E repito aqui: dentro do campo audiovisual, a única possibilidade de contar essa história seria por meio de uma animação que, ao mesmo tempo, consegue ser simples e criativa na mensagem que pretende passar. Mérito total dos animadores.

Mas afinal, qual é o sentido da obra para além da representação do conflito existencial de seu personagem em busca de suas respostas? É neste ponto que o diretor (que também assina o roteiro) toma uma sábia decisão: a de não permitir que o seu foco narrativo seja apenas em um conjunto de alegorias imagéticas que exprimem o dia-a-dia opressivo de seu protagonista.

Com isso, nós temos aqui um arco dramático passível de interpretação, vamos lá: particularmente, eu gosto de pensar que A Raiz de Um é antes de qualquer coisa um filme sobre a vasta complexidade que envolve o processo de amadurecimento – e dentro disso está o fato de encontrarmos (ou não) respostas para uma série de questões que nos afligem enquanto somos jovens. Pois ao cabo de tudo, qual será o preço a se pagar por finalmente encontrar o nosso coeficiente? Terá mesmo de haver um preço por isso? O quão confuso e dilacerante precisa ser o processo de nossa evolução pessoal?

São essas (e possivelmente outras) questões que o curta levanta e deixa a cargo de cada espectador responder. Isso é bom? Para ser sincero, eu não acredito que um discurso objetivo não combinaria com a estética onírica presente no filme, o que significa dizer que, para mim, a obra toma a escolha correta ao se manter na área da subjetividade.

Em suma, posso dizer que “Raiz de Um”, com seu estilo poético e inventivo, é um sopro de esperança para o cinema de animação universitário brasileiro. Espero que ele se torne um exemplo de que é sim possível fazer um bom filme de desenho animado mesmo sem recursos milionários e uma estrutura gigantesca. Um bom resultado vem sempre da qualidade, e não da quantidade.

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