Existem ideias de produção audiovisual que só podem ser concebidas por meio da animação. Este é o caso da obra alegórica de Pedro Henrique Lima, A Raiz de Um. Nela, nós acompanhamos o tormento existencial de seu protagonista que, ao enfrentar sua rotina, procura respostas para uma série de questionamentos acerca de si mesmo e do mundo ao seu redor.
Com base nessa premissa, o curta se utiliza de uma série de inventivas decisões técnicas para nos colocar dentro da mente e estado de espírito do personagem principal (propositalmente sem nome definido), criando assim um aspecto surrealista que consegue traduzir bem o seu conflito interno. Destarte, nós vamos desde metáforas que representam a forma como o protagonista se sente deslocado com relação aos outros, passando pela sua angústia traduzida em fórmulas matemáticas (meu pavor), até figuras cósmicas que refletem o peso letárgico de seu cotidiano.
É uma narrativa que, em minha opinião, encontra o seu mérito na utilização de técnicas simples de animação 2D como um meio de analisar o âmago inquieto de seu protagonista. Neste sentido, os grandes questionamentos da obra residem em torno da interação de seu personagem com a realidade que o cerca. É, sem sombra de dúvidas, um filme de forte teor intimista. E repito aqui: dentro do campo audiovisual, a única possibilidade de contar essa história seria por meio de uma animação que, ao mesmo tempo, consegue ser simples e criativa na mensagem que pretende passar. Mérito total dos animadores.
Mas afinal, qual é o sentido da obra para além da representação do conflito existencial de seu personagem em busca de suas respostas? É neste ponto que o diretor (que também assina o roteiro) toma uma sábia decisão: a de não permitir que o seu foco narrativo seja apenas em um conjunto de alegorias imagéticas que exprimem o dia-a-dia opressivo de seu protagonista.
Com isso, nós temos aqui um arco dramático passível de interpretação, vamos lá: particularmente, eu gosto de pensar que A Raiz de Um é antes de qualquer coisa um filme sobre a vasta complexidade que envolve o processo de amadurecimento – e dentro disso está o fato de encontrarmos (ou não) respostas para uma série de questões que nos afligem enquanto somos jovens. Pois ao cabo de tudo, qual será o preço a se pagar por finalmente encontrar o nosso coeficiente? Terá mesmo de haver um preço por isso? O quão confuso e dilacerante precisa ser o processo de nossa evolução pessoal?
São essas (e possivelmente outras) questões que o curta levanta e deixa a cargo de cada espectador responder. Isso é bom? Para ser sincero, eu não acredito que um discurso objetivo não combinaria com a estética onírica presente no filme, o que significa dizer que, para mim, a obra toma a escolha correta ao se manter na área da subjetividade.
Em suma, posso dizer que “Raiz de Um”, com seu estilo poético e inventivo, é um sopro de esperança para o cinema de animação universitário brasileiro. Espero que ele se torne um exemplo de que é sim possível fazer um bom filme de desenho animado mesmo sem recursos milionários e uma estrutura gigantesca. Um bom resultado vem sempre da qualidade, e não da quantidade.
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