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DESVER

FESTIVAL DE CINEMA 

UNIVERSITÁRIO

DE MATO GROSSO DO SUL

Foto do escritorIsabela Lachi

PELOS OLHOS TEUS

O que se deve esperar de uma produção cinematográfica? Fidelidade, perspectiva? Cada vez mais entendo a necessidade de evitar expectativas prévias a fim de realmente me entregar a obra de arte tanto quanto ela a mim. Porém, Pelos olhos teus não se permite ir longe no que parece propor. O curta começa com um plano de Amélia no quarto se olhando frente ao espelho. Tal momento sugere que esse olhar melancólico e envergonhado do próprio corpo vá construir uma primeira possível problemática. Essa cena tinha muito para funcionar em minha visão, já que apresenta seu conteúdo com expressividade e permite que a sensibilidade de quem a vê se encarregue de decifrá-la. Contudo, minha expectativa foi muito frustrada com o curso que a obra toma. Isso se deu porque o filme acaba se aventurando em outros temas, todos tangencialmente, e pouco se foca no apresentado nesse início.

Apesar do desenrolar da história fugir à minha expectativa criada por essa primeira cena, de resto a narrativa não surpreende em nada. Parece que se procura o caminho mais óbvio para o desfecho de qualquer situação e diálogo. O homem com que a protagonista tem um encontro no bar se mostra um babaca; então ela conhece uma menina que, com algumas palavras e uma música triste, se torna sua salvação, exemplificando essa mudança que me soa forçada como solução.

Entre diálogos previsíveis, personagens óbvias e situações justificadas pelo acaso, o curta ainda remete superficialmente a tópicos como machismo, assédio e homofobia. Por mais relevante que seja o debate de tais problemas, não faz sentido para mim temas tão sérios serem incluídos nesse formato de progressão tão simplista. Além disso, acredito que o tempo de duração da obra poderia ser bem reduzido se os realizadores se ativessem a história principal e desenvolvessem melhor uma das questões propostas, ao invés de passarem por cima de tantos contextos diferentes numa tentativa de alcançar a todos e se provarem relevantes.

Meu problema maior com esse curta foi que eu tinha acabado de ver dois outros muito menores e menos narrativos, que me disseram bem mais do que esse em seus quase 15 minutos. Mas, assim como gosto da primeira cena, o fechamento com o diálogo de mãe e filha retoma o eixo da história. Esse paralelo poético criado entre o ponto de vista da menina que Amélia conhece no bar e a visão de uma mãe deficiente visual sobre a filha, propõe transcender o plano físico, encerrando de alguma forma a questão da dificuldade da personagem aceitar a autoimagem.

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