Cabeça de boi, um filme sobre dois rivais que resolvem um sério conflito de uma maneira inesperada.
O filme se inicia de uma forma meio faroeste, um dos protagonistas do filme é apresentado de uma forma muito interessante que me lembrou isso principalmente por conta da caracterização do personagem, que usa um chapéu.
Logo, o título do filme se explica, Cabeça de Boi é o nome do bar onde a trama ocorre.
Após a cena inicial, a minha primeira impressão logo é contrariada, pois mudamos dessa atmosfera para o típico cenário conhecido por muitos brasileiros, um bar comum, com sinuca, música, e pessoas bebendo. Ao que parece, um homem chamado Manel virá ao bar para confrontar Tampinha, e há muitas pessoas na frente do bar esperando o encontro dos dois.
Manel e Tampinha parecem já se conhecer pelo que dizem os dois amigos, e um intruso que ouviu a conversa por acaso, que diz que os dois são grandes rivais, e que nunca estão em um lugar ao mesmo tempo, revezam dia e noite para não se encontrarem. O que surpreende na cena, é que Tampinha está no bar antes do sol se pôr, acredito que é por causa do confronto que irá ocorrer, já que nas cenas seguintes os dois pareciam estar cientes da forma que o conflito seria resolvido.
Entre algumas cenas de boatos sobre a rivalidade entre Manel e Tampinha, uma em específico chama a atenção, pois uma moça diz que Tampinha estava devendo lotes de terreno para Manel, que seria um parente distante, mas Tampinha aparentemente não quis pagar e tomou uma ‘’coça’’, guarde isso.
Quando Manel finalmente chega ao bar, vai diretamente confrontar Tampinha, pergunta se ele trouxe os documentos, mas sem muita explicação o assunto muda e a atmosfera faroeste volta quando os dois começam a se rodear com foco na arma que está na cintura de Manel, como num filme onde vai ter um duelo. Ao que tudo indica, um tiroteio se iniciará, mas de repente, tacos de sinuca.
Confesso que as mudanças drásticas de atmosfera do filme me surpreenderam muitas vezes, pois quando achei que algo sério iria acontecer, como um tiroteio, logo era surpreendida por tacos de sinuca ou algo do tipo. Percebo que esta mudança ocorre na maioria (senão todas) das cenas onde Manel está em foco. Então o confronto era na verdade uma partida de sinuca, mas qual seria o propósito dessa disputa? Talvez seja verdade o boato de que Tampinha está devendo a Manel, mas não temos certeza disso ainda.
Após algumas jogadas, temos um flashback. No passado, Manel ganhou uma partida de sinuca onde o prêmio era um terreno, que compartilharia com um amigo que comemorou a vitória junto com Manel. O amigo e Manel ficam felizes e vão para o terreno que ganharam, mas logo a cena é invadida por tiros, que atingem o amigo. Após a morte de seu amigo, Manel pega o chapéu dele e começa a usá-lo, mesmo chapéu que usa durante todo o filme.
Com o passado do personagem explicado, o motivo da rivalidade, que antes era apenas um boato, é confirmado, Tampinha realmente está devendo Manel e aquela partida de sinuca determinará quem vai ficar com o terreno.
Agora que o motivo da rivalidade está esclarecido, ficamos inclinados a estar do lado de Manel, pois conhecemos o seu passado e ele realmente tem um motivo profundo para estar disputando aquela partida. O que me deixa intrigada nessa história é que assim como ocorre com Manel, esperei que o passado de Tampinha também fosse mostrado, para que talvez pudéssemos descobrir porque ele também quer o terreno, mas isso não é mostrado.
Ao Manel errar uma jogada, o jogo já possuía um vencedor. Tampinha acerta o que seria a jogada determinadora do resultado e comemora, mas quando menos se espera, uma reviravolta acontece e o jogo vira, a sorte estava a favor de Manel, e ele sai vencedor. O filme acaba com a vitória de Manel e alguns torcedores de Tampinha decepcionados com ele.
A fotografia do filme é muito bonita para algo que se passa na maior parte do tempo dentro de um bar, já que eu consideraria difícil encontrar partes do cenários que fossem esteticamente agradáveis, mas a forma como os planos foram bem escolhidos para trazer a atmosfera certa para cada uma das cenas, especificamente nas de Manel, foram muito certeiras e atingiram o que acredito que eram as intenções do diretor Lucas Souto para o personagem.
Manel é um personagem que parecia ser imprevisível até vermos o seu passado, pois antes disso apenas enxergávamos um homem durão e perigoso que onde passava todos o temiam, mas depois descobrimos que ele apenas queria o terreno que provavelmente compartilhou com seu amigo antes de sua morte. Os planos antes do passado de Manel serem mostrados eram escolhidos de forma que parecia querer mostrar como aquele personagem era perigoso e somente aquilo, enfatizando a arma na cintura, o olhar bravo e coisas do tipo. Depois do flashback os planos foram mais ‘’normais’’, pois descobrimos que na verdade o personagem durão era uma pessoa com um passado triste.
A atuação de Tampinha também foi admirável, acredito que como não tivemos muita explicação sobre seu passado, a ‘’máscara’’ de cara mau foi muito bem interpretada por ele, que assim como Manel, era durão, mas parece ser como um tipo de pessoa revoltada, já que supostamente tomou muitas ‘’coças’’ de Manel.
No momento da conversa dos dois amigos sobre o conflito que iria acontecer no bar, percebo que um dos dois quase deu uma risada ao ser surpreendido por Tampinha, o que quebrou um pouco a seriedade que a cena queria passar, mas como essa cena não era assim tão importante para o filme acho que não é um erro tão grande.
A surpresa do filme é sua cena pós-crédito: Manel e Tampinha irão retornar. Parece que Tampinha tinha um combinado com a dona do bar, Maradona, que diz ter apostado com a vitória dele, mas não é muito explicado.
Enfim, espero poder assistir o retorno das duas figuras de Manel e Tampinha e responder à minha pergunta: qual será o propósito de Tampinha?
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