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DESVER

FESTIVAL DE CINEMA 

UNIVERSITÁRIO

DE MATO GROSSO DO SUL

Foto do escritorJorge Guilherme

SALVO PELA ESTÉTICA

Qual é o limiar que separa uma obra complexa de uma vazia? Essa é a pergunta que ficou martelando a minha cabeça após assistir Antiaura, de João Felipe Rufatto e Leonardo Zago. Digo isso porque temos aqui uma obra que foge bastante de um padrão narrativo tradicional, haja vista que os dois diretores optam por uma pegada conceitual que muito provavelmente irá desagradar quem está acostumado com uma história padrão de três atos bem definidos.

Não que o filme em questão não seja divido em atos, pelo contrário, temos aqui três atos que são desenvolvidos em três estilos audiovisuais diferentes. Pode parecer um pouco confuso, certo? Na verdade, para ser bem sincero, eu acredito que a ambição estética é a principal qualidade dessa obra. E além do mais estamos falando de um curta universitário, o que significa dizer que a experimentação é muito bem vinda.

O primeiro ato é um documentário falso (mockumentário) onde um artista, e aqui se deve um elogio ao trabalho do ator José Teixeira, que consegue entregar uma interpretação natural que nos faz pensar que a estória que ele conta é verdadeira, comenta sobre como ele enganou o algoritmo de uma plataforma chamada “virtú” para que ela criasse uma imagem falsa de si mesmo. Neste seguimento, o curta se utiliza da estrutura técnica padrão de uma obra documental para contextualizar o público acerca de seu personagem e dos temas que irá tratar nos próximos atos.

No segundo, acompanhamos uma performance artística de José em um ambiente vazio que vai progressivamente ganhando um aspecto onírico a partir de sua dança – e neste ponto vale um destaque especial para edição, que faz com que toda a mise-en-scène (marcada pelo azul vibrante e por uma música eletrônica psicodélica) ganhe uma característica envolvente.

Por fim, no terceiro ato nós temos um longo discurso que é proferido por diferentes vozes que sobrepõem à de José, e aqui se deve mais elogiar a edição, pois a sincronização dos sons com a imagem ficou perfeita.

De modo geral, Antiaura se destaca pelas suas qualidades técnicas, haja vista o bom trabalho de edição, fotografia, mixagem de som e atuação. Entretanto, a sua abrangência discursiva acaba por vezes minando o seu próprio potencial. É um filme que passa a impressão de querer falar sobre tudo: performance no meio digital; a desumanização oriunda da relação humana com as mídias sociais; a relação entre o artista e o meio virtual; a forma como a tecnologia nos manipula cada vez mais; e até mesmo uma análise da relação conflituosa entre “o antes e o agora” pode ser vista aqui.

E é exatamente neste ponto que eu volto à pergunta inicial: Qual é o limiar que separa uma obra complexa de uma vazia?

Bom, se por um lado o filme em momento algum busca transmitir uma mensagem objetiva que não seja passível de diferentes interpretações, por outro a sua amplitude temática ofusca alguns mecanismos de compreensão da obra como um todo. Ou seja, é possível compreender os assuntos aqui tratados e a maneira como são abordados, mas falta um fio condutor que ligue os pontos em uma mesma narrativa.

Assim sendo, o curta se mantém no campo da complexidade ao abordar diferentes temas de maneira criativa e instigante, mas passa perto de esbarrar no pedantismo pseudointelectual ao não apresentar uma conexão clara entre os assuntos aqui tratados. Por sorte, com a habilidade de seus diretores, a competência de sua equipe técnica, e o carisma de seu único personagem, Antiaura se mostra um curta-metragem que merece ser visto por aqueles que buscam um cinema experimental inventivo em sua execução estética.

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